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Relembrando o incrível Chelsea de Carlo Ancelotti

  • Foto do escritor: MDD Sports
    MDD Sports
  • 12 de abr. de 2022
  • 5 min de leitura

No clube inglês, o treinador montou um timaço com vários craques e diversas variações táticas entre 2009 e 2011


Ao final da coletiva da vitória do Real Madrid sobre o Chelsea, por 3 a 1, na ida das quartas-de-final da Liga dos Campeões, o treinador Carlo Ancelotti disse que o clube inglês “sempre estará em seu coração”. Não é por menos. Ancelotti passou dois anos no comando do Chelsea e montou um time fantástico, pouco lembrando e que merece ser revisto em mais um encontro do técnico com os Blues.


Foto: Reprodução

Se hoje busca uma difícil virada para defender seu segundo título europeu no confronto de volta da Liga dos Campeões, em 2008 o Chelsea via na competição uma verdadeira obsessão. Traumatizado após a perda do título, nos pênaltis, para o United, Roman Abramovich apostou alto e buscou Luiz Felipe Scolari, que vinha de uma Copa do Mundo e um trabalho excelente em Portugal.


O fracasso de “Big Phil” e as rusgas com Mourinho fizeram o magnata russo, hoje ex-dono do clube, buscar um novo treinador. A torcida queria a permanência de Guus Hiddink, que tinha sido campeão europeu já num longínquo 1987, com o PSV. Mas com três finais de Liga dos Campeões em oito anos no Milan, Ancelotti parecia ser o nome certo.


O fato de ser fluente em inglês foi um fator decisivo, uma vez que a falta de comunicação foi apontada como um problema na passagem de Scolari. Com sua liderança tranquila e estilo aberto, a primeira providência de Ancelotti foi pensar num sistema que acomodasse todo o elenco dos Blues. Ancelotti pensou em dois sistemas-base:


Sem Deco, que já convivia com lesões, o time formaria um 4-3-3. Ballack ou Essien poderiam ser os primeiros volantes, e Malouda preencheria o meio-campo.


Quando Deco estivesse à disposição, ele jogaria como meio-campista num 4-3-1-2, com Ballack e Lampard pelos lados e Essien ou Obi-Mikel na defesa.


Para unir tantos bons nomes no time, Ancelotti pensou numa forma dos jogadores abrirem espaço e criarem chances de gol: mobilidade total. Ballack ficava mais atrás e buscava a bola de Carvalho e Terry, enquanto que Lampard e Malouda (ou Deco) se movimentavam mais à frente. Anelka e Ashley Cole trocavam de posição na esquerda. Kalou (ele mesmo, que jogou no Botafogo) avançava e Drogba recuava.


Se um viesse ocupar um espaço vazio para dar apoio, outro avançava para dar profundidade e fazer o time ter linhas de passe na frente. Movimento que beneficiou demais Lampard, que anotou 22 gols, marca impressionante para um meio-campista.


O segredo era essa movimentação. A lógica é simples: se com a bola cada um faz o que sabe, sem a bola todo mundo - de Anelka a Terry, até o goleiro - pode buscar espaços vazios. As trocas de apoio e profundidade, tão características do futebol brasileiro e muito presente no incrível Galo de Cuca, são lidas de uma forma errada como “depender da individualidade”. Nada a ver. É futebol coletivo puro.


As soluções táticas do italiano rapidamente deram resultado. Foram 17 vitórias nos 20 primeiros jogos num time que quebraria diversos recordes na época e fez 103 gols nos 38 jogos da Premier League. Algumas vitórias, como o 8 a 0 no Wigan e o 7 a 1 no Aston Villa, marcaram época. Foram dois títulos, a Premier League e a Copa da Inglaterra, o chamado Double, pela primeira vez na história do clube. O losango ficou tão famoso que passou a ser discutido como uma possível solução para Fabio Capello na Copa do Mundo de 2010.



Uma vez, antes do jogo, Ancelotti chegou em frente a uma mesa tática e perguntou aos jogadores como deveria ser o modelo de jogo. Treinadores muitas vezes têm medo de dar tanta responsabilidade aos jogadores, mas quando o jogo começa, a influência do técnico num estádio cheio é pequena. Não dá para passar informação. Os jogadores precisam tomar decisões em frações de segundos


— Paul Clement, auxiliar de Ancelotti no Chelsea

Apesar do ótimo ano, a expectativa ainda era a Liga dos Campeões, onde num roteiro que só essa maravilha chamada futebol permite, colocou o Chelsea frente com José Mourinho, cuja demissão ainda ecoava na torcida. A vingança veio. Num jogo onde Maicon, Lúcio, Samuel e Zanetti deram aula de linha defensiva por zona, a Inter venceu o Chelsea duas vezes nas quartas-de-final.


A perda da Liga dos Campeões para Mourinho não foi bem digerida por Abramovich, que começava a tecer críticas internas a Ancelotti. A segunda temporada foi cercada de expectativa. Foram gastos 50 milhões de euros em Fernando Torres, e Ramires foi contratado para repor Ballack.


O Chelsea liderou boa parte da competição, mas começou a cair de rendimento em novembro. A influência de Abramovich no clube contrastou com o perfil protetor de Ancelotti, que não queria a ingerência do dono. Após uma derrota de 2 a 0 para o Liverpool, Ray Wilkins, auxiliar de Anceloti, foi demitido. Era o começo do fim.


Em fevereiro, o United já tinha cinco pontos de vantagem e a Premier League seria apenas um sonho distante. Para piorar, na Liga dos Campeões o destino marcaria um novo encontro do Chelsea com o United - que já tinham sido finalistas em 2007/08, quando Terry errou um pênalti. Deu o copeiríssimo United, no que seria a última mostra de força do poder de Alex Ferguson.


Nem dois meses depois e Ancelotti foi demitido minutos depois do último jogo da temporada, contra o Everton, impedido até a dar a coletiva após o jogo. No livro "Liderança Tranquila", ele não escondeu a mágoa:



No último jogo do ano, fomos superados pelo Everton por 1 a 0. Ouvi dizer que o CEO do clube estava indo para casa quando recebeu um telefone dizendo: 'Dê meia-volta e diga a Carlo que ele está demitido'. Ao menos pude despedir-me dos jogadores.Naquela noite, os jogadores mais experientes — Didier Drogba, John Terry, Frank Lampard e os demais — levaram-me para jantar e beber alguma coisa. Nunca havia presenciado aquilo em minha carreira. Acho que gostavam de mim,

— Carlo Ancelotti, no livro Liderança Tranquila


Na temporada seguinte, o Chelsea finalmente conseguiria o título europeu, ironicamente após demitir André Vilas-Boas, substituto de Carlotti, com o interino Di Matteo no banco. Ancelotti foi escolhido a dedo por Leonardo para os primeiros anos do projeto do PSG e fez temporadas decentes, dando um trabalho imenso ao Barcelona de Guardiola na Liga dos Campeões com Beckham de volante.


Em 2013, era escolhido pelo Real Madrid para sua primeira passagem que terminaria com o título europeu. Os dois se reencontram hoje como rivais, mas com uma feliz lembrança. Aquele namoro gostoso, que acabou por imaturidade e poderia ter durado mais. Porque rendeu um time simplesmente incrível, que marcou as manhãs de sábado e domingo entre 2009 e 2011.



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