Em temporada turbulenta, sucesso na Europa nunca foi esperado. Mas derrota para o Atlético de Madrid reforçou os problemas do clube
Cristiano Ronaldo, o maior artilheiro da história em jogos oficiais, deixou o gramado de Old Trafford revoltado na quinta-feira. Na derrota do Manchester United por 1 a 0 para o Atlético de Madrid, que decretou a eliminação dos ingleses nas oitavas de final da Liga dos Campeões, o craque português não conseguiu uma finalização sequer durante os 90 minutos.

Foto: David S. Bustamante/Soccrates/Getty Images
A frustração de Cristiano Ronaldo simbolizou bem o que foi o jogo e o que é o atual Manchester United. Dias depois de um hat-trick sobre o Tottenham, o artilheiro correu de um lado para o outro, pouco esteve na área e nunca foi alimentado. A inconsistência é a marca dos Diabos Vermelhos.

Não é por falta de talento no papel. Passaram pelo campo nesta quinta-feira Bruno Fernandes, Sancho, Pogba, Rashford, Cavani e Juan Mata. Todos jogadores consagrados. Nenhum capaz de uma única jogada. O melhor jogador do Manchester United, sacrificado para a entrada de Cavani no desespero de fim de jogo, foi o volante brasileiro Fred.
É importante repetir: Pogba, Cavani, Rashford e Mata entraram no segundo tempo e pouco contribuíram. Com a expectativa de mudar um jogo renhido, em que o Atlético negava cada centímetro ao ataque do United. O quarteto não fez absolutamente nada. Cavani errou dois passes de forma constrangedora.
Nenhum deles esqueceu como se joga futebol. Mas é um retrato de como o Manchester United, hoje, é um clube - e, consequentemente, um time - sem qualquer identidade. A consistência da era Ferguson esmaece a cada troca de treinador e a cada contratação milionária que fracassa num ambiente de incertezas.
Ralf Rangnick, o guru alemão, foi escolhido como interino. Em tese, passará a ser um consultor do United na próxima temporada. No papel, a ideia é ótima: Rangnick é a mente por trás do sucesso esportivo, financeiro e ideológico do RB Leipzig.
Na realidade, ele se viu com um elenco completamente oposto às suas ideias e dificilmente permanecerá para um trabalho de longo prazo. Na janela de transferências de janeiro, suas tentativas de mexer no elenco foram rapidamente travadas pela diretoria.
Rangnick tem ideias claras: seus times jogam com velocidade e pressionam de forma incessante no ataque. Ele tentou fazer o Manchester United jogar assim contra o Atlético de Madrid. A escolha pelo jovem Elanga no ataque mostrava o quanto o técnico queria frescor e intensidade na frente.

A estratégia não deu certo em momento algum. Mesmo que o United ensaiasse pressão na frente e tivesse mais posse de bola, o Atlético de Madrid estava pronto para aproveitar cada deslize. Foram três saídas rápidas, de pé em pé, desde a defesa, até a jogada que resultou no gol de Renan Lodi.
A cada troca rápida de passe, a pressão idealizada por Rangnick desmoronava. Para jogar do jeito que o alemão idealiza, é preciso ter uma zaga rápida - Varane e Maguire estão longe de ter essa característica. McTominay, o primeiro volante, também não tem a mobilidade necessária. Restava Fred, sozinho contra Koke, De Paul, Herrera e Llorente.
O Atlético de Madrid também está longe de realizar uma temporada convincente. Mas, nesta eliminatória, mostrou algo que falta ao Manchester United. Simeone, há 10 anos no cargo, desenvolveu uma cultura no clube. Todos sabem como o Atleti joga, como se comporta, o que busca. Depois do gol do Lodi, era claro: marcação cerrada, contra-ataques e chance zero para os ingleses.
Desde a saída de Ferguson, em 2013, o Manchester United disputou a Liga dos Campeões seis vezes. Em apenas dois anos conseguiu chegar às quartas de final. Treinadores passam, medalhões vem e vão, e o clube segue sem ter uma direção clara a seguir. O reflexo está no campo.

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