Gramados naturais ou híbridos são maioria nos principais centros do futebol mundial; Holanda vetou uso de piso artificial com programa de ajuda financeira para manutenção de campos
“Se tivesse padronização de grama natural, não teria discussão”, sobre gramado sintético
A utilização de gramado natural ou sintético não é uma discussão restrita ao Brasil.
Nas principais ligas ao redor do mundo, o tema é debatido e causa divergências sobre a qualidade dos campos, o custo de manutenção e sua influência no desempenho do jogo.
Mas há um consenso nos campeonatos mais valorizados do planeta: o uso de grama artificial é restrito.
Todos os clubes que disputam as primeiras divisões de Inglaterra, Espanha, França, Itália e Alemanha utilizam grama natural ou híbrida (quando se pode ter algum material sintético na composição do gramado natural).
Na Espanha, a partir de 2031, não poderão ser instalados novos campos de grama artificial com partículas de enchimento considerados microplásticos de dimensão inferior a cinco milímetros.
O país não proíbe o uso de grama sintética, mas incentiva e define regras para a manutenção de gramados naturais ou híbridos dentro de um padrão de aceitação para jogos da LaLiga.
No caso da Itália, apesar de não existir proibição da Série A, nenhum dos clubes usa grama sintética nas principais divisões. A exceção fica para o estádio Dino Manuzzi, do Cesena, que tem gramado totalmente artificial. O clube ocupa a oitava colocação da Série B italiana.
Além da França e da Alemanha, a Holanda recentemente vetou os gramados sintéticos. A partir da temporada 2025/2026, os clubes da Primeira Divisão do país concordaram em padronizar os estádios com grama natural.
Desde 2018, a Holanda incentiva com ajuda financeira a manutenção de gramados naturais. O movimento fez com que o Heracles, time fundado em 1903, mudasse para o gramado natural depois de 21 anos usando grama artificial em seu estádio.
A Liga dos Campeões, principal competição de clubes do mundo, não veta o uso de gramado artificial em jogos válidos até a decisão do título.
No entanto, a final do torneio só pode ser realizada em grama natural. A exceção ocorreu na decisão do título da temporada 2007/08 entre Manchester United e Chelsea, que se enfrentaram no estádio Luzhniki, na Rússia, que possui grama sintética.
Na atual edição do torneio, apenas um clube possui gramado artificial. O Young Boys, da Suíça, acabou eliminado com oito derrotas em oito jogos. Na temporada passada, ao enfrentar o clube, o técnico Pep Guardiola não escondeu a insatisfação por ter de jogar em um gramado sintético.
– A grama natural é melhor, porque 99,9% dos times que jogam em alto nível jogam em grama natural, do contrário a Uefa e a Fifa decidiriam jogar em gramados sintéticos. É senso comum – disse o treinador espanhol.
Os gramados sintéticos são mais comuns em países com climas extremos, seja de frio ou calor. Rússia, Ucrânia, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita, por exemplo, possuem mais estádios com gramados sintéticos por causa da melhor possibilidade de manutenção.
Gramados nas principais ligas europeias
Premier League: grama natural ou híbrida (exceção para a disputa da FA Cup, já que gramado sintético é liberado para clubes a partir da 5ª Divisão);
Série A (Itália): não há restrição, mas apenas um clube das Séries A e B utiliza gramado sintético;
Bundesliga: grama natural ou híbrida
LaLiga: não há restrição, mas clubes usam grama natural ou híbrida;
League 1 (França): grama natural ou híbrida;
Argentina: não há proibição, mas todos os clubes da primeira divisão usam grama natural ou híbrida;
Conmebol: segue a regra da Fifa;
Champions League: não há restrição (final em grama natural).
O que diz a Fifa?
A Fifa estabelece três diferentes gramados que são autorizados para a prática do futebol ao redor do mundo: natural, relva natural com reforço híbrido e relva sintética/artificial.
No caso do gramado artificial ou sintético, a entidade máxima do futebol tem um programa de qualidade estabelecido para gramados de futebol, e somente produtos que estejam em conformidade com este programa devem ser considerados como grama sintética adequada.
Gramado sintético: solução ou problema? O EE acompanhou alguns testes O programa indica fabricantes licenciados com gramados sintéticos projetados para garantir que atendem aos requisitos de desempenho de jogo, segurança, durabilidade e garantia de qualidade, exigindo testes de desempenho dentro do padrão estabelecido. São três níveis de certificação:
Fifa Quality Pro: projetado para futebol profissional com uso típico de até 20 horas por semana;
Qualidade Fifa: projetada para futebol municipal, recreativo e comunitário, com uso típico de 40 a 60 horas por semana;
Fifa Básica: padrão básico que atende aos critérios básicos de desempenho e segurança, ao mesmo tempo em que garante acessibilidade.
Ou seja, os clubes profissionais precisam estar certificados no "Fifa Quality Pro" para terem autorização para o uso do gramado sintéticos em seus estádios. Palmeiras, Botafogo, Athletico-PR e Atlético-MG informaram que possuem a certificação e que seus gramados seguem os padrões estabelecidos pela Fifa.
Todos os jogos das Copas do Mundo de todas as categorias em 2025 (incluindo o Mundial de Clubes), 2026 e 2027 terão campo com padrão de 105x68m e grama natural
A Fifa estabelece requisitos básicos para a instalação de gramados artificiais, que estão dentro dos padrões para a obtenção dos certificados para a utilização do piso nos estádios para jogos profissionais. Veja abaixo:
Camada de formação: plataforma sobre a qual o campo será construído deve ser estável, e os contornos do projeto para o campo de jogo serão refletidos nesta camada de formação;
Drenagem de tubos: para coletar e remover a água que se move através do perfil do campo;
Sub-base: agregado aprovado, permeável (não ligado) fornece uma camada de base estável para o campo de jogo, que também atuará como um meio de coleta para água de drenagem.
Uma membrana geotêxtil divide a sub-base e a camada de formação;
Camada de nivelamento: existem duas opções básicas para a camada de nivelamento: uma ou mais camadas de macadame betuminoso poroso (Bitmac) ou asfalto, criando uma base projetada o ligada; material agregado graduado, que pode ser nivelado, para criar uma base não ligada.
Por fim, a Fifa recomenda a escovação regular, a remoção de detritos da superfície (folhas, excremento de pássaros, lixo etc), uma esteira de arrasto e uma rampa de rolamento de esferas, além da desinfecção para reduzir a propagação de bactérias.
A entidade também reforça a necessidade de resfriar o gramado antes das partidas por conta do aquecimento em dias com clima mais quente.
A Fifa entende que não é possível estabelecer apenas um tipo de gramado como padrão para jogos de futebol ao redor do mundo.
Isso porque condições climáticas e financeiras impedem que a padronização mantenha uma equiparação entre clubes e países mais ricos e mais pobres.
Por isso, a entidade oferece alternativas que considera justas para a qualidade dos gramados ao redor do mundo.
Gramado sintético no Brasil
Levando em consideração os grandes clubes brasileiros que disputam as Séries A e B do Campeonato Brasileiro, quatro estádios possuem atualmente gramado sintético: Allianz Parque, Ligga Arena, Nilton Santos e MRV Arena.
Palmeiras, Athletico, Botafogo e Atlético-MG se posicionaram sobre as críticas ao gramado sintético. Os três primeiros clubes já utilizam o piso há mais tempo, enquanto o Galo está em fase final da troca depois de não ter conseguido manter um bom padrão com a grama natural desde a inauguração da sua arena.
O Corinthians, elogiado por ter um dos melhores gramados do Brasil, utiliza a grama mista: 96% de grama natural com 4% sintético - as fibras sintéticas não têm função estética, elas servem apenas para a raiz da grama “agarrar” a fibra, dando mais estabilidade ao gramado, tendo função no solo e não na superfície.
Gramado da Neo Química Arena passou por reforma em 2022;
VEJA IMAGENS DE ESTADIOS QUE TEM GRAMA SINTÉTICA E QUE NÃO TEM:

Estádio Dino Manuzzi, do Cesena, da Itália, tem gramado sintético — Foto: Getty Images

Exemplo de estrutura de gramado sintético no padrão da Fifa — Foto: Reprodução/Fifa.com

Gramado sintético Ligga Arena, do Athletico — Foto: José Tramontin/athletico.com.br

Gramado da Neo Química Arena passou por reforma em 2022; clube deve trocar totalmente o gramado neste ano — Foto: Divulgação Word Sports
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