Do interior de Minas para a Seleção: na Copa, Debinha inspira gerações de crianças na cidade natal
- MDD Sports
- 9 de jul. de 2023
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"Fã número 1" da jogadora é um menino que se encanta pelo futebol da atacante desde 2013
A atacante Debinha, da seleção brasileira, está na Austrália se preparando para a Copa do Mundo Feminina que começa em 10 dias . Enquanto se prepara, centenas de conterrâneos estão ansiosos por mais uma exibição da atacante em mundial. Em Brazópolis, cidade a 450km de Belo Horizonte, no interior de Minas Gerais, vizinhos, amigos e fãs de Debinha se inspiram para continuar o legado da jogadora e aumentar o coro na torcida.
Foi na cidade de cerca de 14 mil habitantes que surgiu uma das maiores atacantes do mundo. A artilheira da Seleção na era Pia, com mais de 30 gols, era a típica menina que amava jogar futebol, mas encontrava a barreira de nunca ter outras companheiras para compartilhar da brincadeira.

Foto: David Lidstrom/Getty Images
- Debinha sumia, passava duas, três horinhas, Debinha não vinha pra casa, e minha mãe já pedia para gente buscar ela, a gente já sabia onde. Tava na quadra, campo, na pracinha. E sempre jogando bola - contou Kelly, irmã da camisa nove.
E foi nas ruas de Brazópolis que o primeiro treinador olhou para Debinha com um olhar diferente. Durante as aulas de educação física na Escola Estadual Presidente Wanceslau, em 2004, Juninho Donizete percebeu uma habilidade diferente na pequena que usava a camisa 10.
- Perguntei pra alguns meninos que jogavam comigo se eles conheciam aquela menina, eles me falaram que era a Debinha, que estudavam com ela. Aí eu pedi pros meninos se pudesse trazer para o campeonato Municipal pra gente, que era o Municipal Dente de Leite, em 2004.
Debinha não só jogou, marcou gols e ajudou o time a chegar à final. Mas a mãe descobriu que a garota estava jogando com meninos ,e o preconceito na cidade impediu que ela continuasse.
- Minha mãe acreditava nela, mas tinha aquele receio de jogar com os meninos, porque era a única menina, né? Acho que se tivesse mais uma menina alí no meio seria mais tranquilo. Mas era mais das pessoas falarem. E falavam bastante. Minha mãe sempre ouvia: "Vi a Debinha jogando entre os meninos, a Debinha parece um meninos jogando entre os meninos". Então sempre tinha essas críticas - relembrou Kelly.
O primeiro treinador de Debinha, Juninho Donizete, não desistiu da craque. Ela continuou jogando com o técnico e com a professora de Educação Física, Marisa do Carmo, que conseguiram descobrir um clube no interior de São Paulo que aceitasse meninas e a levou para a primeira peneira da carreira.
- Aí um dia, eu e Juninho descobrimos um local em Águas de Lindóia, no estado de São Paulo, e a gente foi e levou a menina pra fazer um teste lá - contou Marisa.
- Quinta-feira, nove horas, a Debinha treinou. Meio dia o treinador já ligou, falou: ó, essa não volta mais. Pode trazer a roupa dela que ela não volta mais pra Brazópolis - relembrou o treinador.
Foi no Saad Esporte Clube São Caetano que a camisa 9 da Seleção começou a caminhada no futebol rumo aos holofotes do mundo e aos maiores campeonatos de futebol feminino. Daquele momento em diante, a mineira passou pela Noruega, China e desembarcou nos Estados Unidos, onde está há mais de seis temporadas.
Atualmente, Debinha atua no Kanssas City, jogando a Liga Americana, com seis gols e uma assistência na temporada. Essa será a segunda Copa da carreira. Em 2019, esteve na França representando o Brasil. Já disputou duas Olimpíadas e é bi-campeã da Copa América (2018 e 2022).
Inspiração para uma geração
Os títulos, a carreira e a presença constante na Seleção Brasileira, fazem da menina de Brazópolis uma inspiração para uma geração não só de meninas, mas de meninos que se encantam pela habilidade da atacante.
Na cidade onde apenas Debinha jogava com muitos meninos, um projeto busca captar meninas que queiram jogar futebol. Todas com uma inspiração em comum.
- Foram vindo 12, 13, 15, 18, e agora tá essa turminha aí que vocês tão vendo. Mais de 20 meninas - contou o educador físico Kaique Cavichi.
Quando perguntadas em quem se inspiram, o coro é único:
-Debinha! Se a Debinha pode jogar, quem não pode? Quem sabe até nós podemos ser uma inspiração.
Inspiração é que elas querem ser para parecer com a atacante. Já o jovem Miguel Alessandro vê em Debinha aquela craque que faz magia com a bola nos pés. E mesmo com toda a dificuldade para acompanhar o futebol feminino, Miguel sempre dava um jeito de acompanhar a jogadora. A carreira feita no exterior e os jogos pela Seleção serviam de conteúdo para o estudante exibir entre os colegas.
- Muitos meninos viam vídeos do Messi, do Cristiano Ronaldo, desses jogadores aí. E eu sempre procurava ver os delas, porque ela era a jogadora que mais me inspirava. No início, em 2013, quando tinha jogo da Seleção, era raro ter transmissão. Aí eu ficava procurando link, alguma maneira de assistir. E o campeonato norueguês, quando ela foi pra lá, era mais difícil ainda. Aí eu entrava em grupos do time pra conseguir de alguma forma assistir os jogos.
Inspiração do Miguel, das meninas que jogam pela cidade e uma esperança de que Brazópolis pode ser o berço de mais craques para o futebol brasileiro.
Fonte;ge.globo

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