Ainda em processo de reformulação, seleção surpreender depois de chegar desacreditada. Sob comando de Gabi, líder por excelência, mostra força para crescer ainda mais rumo a Paris 2024
A frustração é quase palpável, é verdade. Mas, em um caminho marcado pela superação, o último ato talvez jogue sombras onde não deveria. Quando a seleção brasileira feminina embarcou rumo ao Mundial de vôlei, poucos apostavam em um pódio no fim. Aos poucos, a equipe de José Roberto Guimarães se cercou de expectativas diante de sua própria evolução. A queda brusca para a Sérvia na decisão em Apeldoorn ajuda a lembrar, porém, que ainda há muito a ser feito até as Olimpíadas de Paris, em 2024.

Foto: Getty Images
Logo após a prata conquistada nas Olimpíadas de Tóquio, Zé Roberto deu início à reformulação da equipe. Peças importantes, como Fernanda Garay, Natália e Camila Brait, deram adeus à seleção. Foi a senha para que o técnico acelerasse o ritmo das mudanças. Ele pediu paciência. Imaginava algumas quedas duras pelo caminho. Mas o time engrenou. E os resultados começaram a aparecer.
Na Liga das Nações, a seleção se mostrou forte. Sob o comando de Gabi, capitã por direito e excelência, um grupo formado por várias caras novas não demorou a encaixar. A derrota para a Itália na final foi encarada com naturalidade naquele momento. Era o começo de um novo ciclo e ainda havia muito a fazer.
No Mundial, esperava-se uma evolução, é claro. Mas alguns rivais pareciam à frente na briga por um título inédito. Só que o time mais uma vez se superou. A cada vitória, pareceu querer acelerar ainda mais seu próprio processo de amadurecimento. Alguns momentos encantaram, como as boas vitórias sobre Itália e China. A virada sobre o Japão nas quartas de final mostrou um time cascudo, que sabe superar suas próprias limitações e se ajustar à exigência do desafio. O caminho rumo à decisão abriu espaço para o sonho.
O Brasil entrou em um tom abaixo na final contra as sérvias. Diante de um rival que sabia exatamente o que estava fazendo, a seleção não conseguiu reagir. As mudanças que haviam funcionado antes não surtiram efeito. E, aos poucos, o sonho ruiu.
A queda deixa um gosto amargo, claro. Mas, assim como a derrota para o Japão na primeira fase trouxe lições, é possível que a prata também crie cascas em um caminho ainda mais tortuoso. O novo Brasil de Zé Roberto tem vários méritos. Mas, ainda, um longo rumo pela frente.
Gabi, aos 28 anos, vive seu auge técnico. Mas não só. A ponteira é o pilar de um grupo que exala união. O discurso pode parecer furado, mas o clima positivo entre as jogadoras era sentido até por rivais. Nos encontros em treinos, nos papos fora de quadra. A seleção era elogiada por onde passava – e não só por seus feitos em quadra.

O time de Zé Roberto tem pontos muito definidos. Em uma seleção que não prima por força física, é preciso ter um sistema defensivo sólido. Gabi e Carol, dois maiores destaques da campanha, são as referências, assim como Macris, Rosamaria, Pri Daroit e Carol Gattaz – essa, aos 41 anos, sem saber se continua. Mas ainda há muito a se fazer. As jogadoras sabem disso. O técnico sabe disso. A frustração pela derrota quando a vitória se mostrou possível não deve durar.
A seleção no Mundial apresentou possibilidades. Nomes que ainda podem ser trabalhados para que evoluam ainda mais. Também mostrou defeitos, é verdade. O saque pode evoluir. A precisão no ataque e no contra-ataque também. Já é, porém, um time que briga de igual com qualquer outro. E isso, logo em seu primeiro ano de reformulação, já é muito.
Na saída da quadra, Zé lembrou de quem não estava ali. Jogadoras como Julia Bergmann, Diana e Ana Cristina, fora por diferentes motivos, são peças que podem ser importantes para a evolução do grupo. E, de fato, fizeram falta em certos momentos da disputa, como na própria final. Outras, como Lorenne, Tainara, Kisy e Lorena, têm ainda mais a render.
A derrota, claro, machuca. Mas é preciso ver todo o percurso até ali. Mesmo em seus defeitos, o Brasil mostrou evolução. Nos últimos anos, muito se falou na necessidade de renovar. E a renovação está aí, em uma velocidade maior do que a esperada. A prata, como disse Carol, deve ser festejada. E, também, servir de lembrança de que há um longo caminho pela frente.

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