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Aos 22 anos, Vinícius Júnior mistura talento, coragem e capacidade de resistir

Foto do escritor: MDD SportsMDD Sports

No mundo do futebol, poucos personagens são, neste momento, tão eloquentes na luta contra o racismo quanto Vinícius Júnior. O atacante brasileiro, um destes jovens pretos que contraria todas as probabilidades de um país desigual e vence graças a um talento descomunal, mistura arte e manifestação em cada gesto. E o faz em meio a um mar de omissão, de ações tímidas, de repetidas tentativas de minimizar a sequência de ataques de que é vítima.


Quando dribla, Vinícius mostra aos racistas que não deixará de ser quem ele é, que não vai se intimidar. Quando dança, mostra que, antes uma forma de expressão, seus passos são agora uma desafiadora forma de protesto, de resistência. Quando faz gols como o que fechou a vitória do Real Madrid no clássico desta quinta-feira, esfrega o seu triunfo de cada dia na cara dos criminosos que o seguem ofendendo.

Foto: EFE

Há uma face especialmente cruel na trajetória do atacante na Espanha. Nenhum dirigente esportivo, assim como nenhuma autoridade pública, pode se dizer surpreso diante da escalada dos atos racistas, cada vez mais desavergonhados e violentos. Porque eles são produto do silêncio, da omissão de uma sociedade anestesiada diante da desumanidade disfarçada de paixão futebolística, de um futebol governado por homens brancos insensíveis ao crime racial. A imagem de um boneco, com o corpo preto e a camisa de Vinícius Júnior, pendurado pelo pescoço numa ponte de Madrid, é a suprema manifestação do ódio, é a propaganda da barbárie. E ninguém pode dizer que o ato repulsivo chegou sem aviso.


Não foi exatamente no momento em que torcedores do Atlético de Madrid penduraram o tal boneco que uma fronteira foi cruzada. Cruza-se a fronteira do aceitável a cada vez que um preto sofre um insulto racial. O caso é que o racismo direcionado a Vinícius Júnior mostra sua face semana após semana, de forma cada vez mais ostensiva, sem receber qualquer resposta contundente, exemplar. A não ser por parte do próprio brasileiro.


Em setembro, dias após ser chamado de macaco num programa de TV, Vinícius chegou ao estádio do Atlético e foi recebido por centenas de pessoas que repetiam o insulto. Uma pequena multidão estava aglomerada e o mais desalentador era notar que, mesmo quem não fazia coro, silenciava ou ria. Não havia qualquer manifestação de oposição.


Após o jogo, o Atlético de Madrid não fez qualquer manifestação de solidariedade a Vinícius ou de censura a seus torcedores e sócios. Demorou dois dias para publicar uma nota repleta de ressalvas, uma delas a de que se tratava “de uma minoria” de torcedores. A liga espanhola foi tímida, assim como o Real Madrid, clube do brasileiro. Até Ancelotti, treinador de Vinícius, disse não haver racismo na Espanha. Uma legião de homens brancos lançava mão de um discurso solidário a Vinícius, mas os atos eram tímidos em meio a eventos tão degradantes. Num futebol que, durante décadas, alimentou uma cultura de território com leis próprias e permissividade, estava criado o cenário para mais ofensas. Quase uma liberação.


A cada estádio que visitava, o brasileiro era insultado. E é impressionante que, diante de tantos e seguidos golpes, num país estranho ao seu e numa sociedade sem qualquer predisposição ao acolhimento, Vinícius jamais tenha errado o tom. Em campo, seguiu jogando ao seu modo. E a cada ofensa, a resposta foi dura, firme. Após um jogo em Valladollid, Vinícius cobrou publicamente a liga espanhola por sua inação. A entidade, enfim, foi contundente: não para punir um racista, mas para dizer que a declaração do jogador era “lamentável”.


Nesta quinta-feira, Rodrygo, outro jovem preto e voz solidária a Vinícius Júnior, fez um gol de antologia. Em seguida, o camisa 20 também marcou e bailou para mostrar que ninguém vai impedi-lo de se manifestar à sua forma. Mas, a rigor, nenhum destes belos lances deveria ter ocorrido. Se os responsáveis pelo futebol espanhol fizessem do combate ao racismo uma real prioridade, a imagem do boneco pendurado na ponte teria sido a senha para que o jogo sequer ocorresse. Porque se ainda faltava algo, ali estaria a prova de que os racistas desconhecem limites, e o flerte com uma tragédia está longe de ser fantasia ou alarmismo. Em situações assim, o perigo de permitir que a bola role é ver a dramaticidade de um clássico e seus belos lances ganharem as primeiras páginas. Como se um boneco preto pendurado pelo pescoço no alto de uma ponte, numa demonstração explícita de ódio racial, xenofobia e numa clara e descarada ameaça, fosse um evento menor do que o jogo.


Menos mal que os racistas encontraram em Vinícius um jovem disposto a lutar. Com a bola, com a dança e com as palavras. É uma admirável mistura de talento, personalidade e maturidade para alguém que tem só 22 anos.


Fonte;ge.globo




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